Olá viajantes dos nossos quintais!
Depois de exatos 30 dias em El Salvador, temos que postar para que todos que nos acompanham possam conhecer um pouco dessa maravilha de país. Saímos de Manágua (capital da Nicarágua) às 5h da manhã, entramos no ônibus da companhia “Tica Bus”, cruzamos a fronteira da Nicarágua com Honduras, cortamos Honduras no meio, atravessamos também a fronteira de Honduras com El Salvador e depois de 12h de viagem chegamos a capital do nosso quarto país, San Salvador.
Confesso que estávamos com medo de conhecer este quintal, uma vez que as notícias que ouvíamos não eram as melhores. Sempre escutávamos falar que El Salvador era um país violento, pobre, onde havia muitos roubos e que muitas pessoas andavam com armas pesadas nas ruas. Depois de ouvir tudo isso não tem como não ficar com medo. Apesar de todas as histórias decidimos conhecer esse país, pois havíamos escutado também que não era nada daquilo que todos falavam. Chegamos então no terminal rodoviário de San Salvador por volta das 19h, onde lá já havia um taxista nos esperando, para nos levar até o nosso destino final, a praia de El Tunco. Havíamos feito uma reserva na “Posada Luna” onde solicitamos também um translado direto da capital para o litoral. Durante o percurso pegamos um trânsito pesado com muitos carros, ônibus, taxis e pessoas pelas ruas. Enfim, depois de 2h30 (o normal seria 1h) chegamos ao em El Tunco. Entramos na pousada e não ficamos satisfeitos com o local, decidimos então passar apenas aquela noite e ir em busca de uma outra hospedagem no dia seguinte.
Na manha seguinte acordamos cedinho, o Ro foi em busca de uma nova pousada e eu fiquei no quarto, ainda com muito medo do lugar (eu parecia um gatinho assustado…rs). O que nos tranquilizou para vir de vez para cá, foi o fato de que dois amigos do Ro (Lucas Dória e Ricardo Canuto) já estavam em Sunzal (praia ao lado de El Tunco) e fomos ao encontro deles. Esse foi também o grande motivo que nos fez pular as ondas da Nicarágua (Popoyo, Playa Colorado e Puerto Sandino), que ficou para uma próxima viagem. Bom! Voltando ao assunto da pousada, depois de algum tempo o Ro retorna, já com dois rapazes, que pegam nossas bagagens e nos levam em direção ao nosso novo destino, o Hotel Tunco Lodge.
Os dias foram passando, fomos colocando as asinhas de fora e os 12 dias que o Lucas e o Ricardo permaneceram por aqui, foram muito agradáveis e 100% surf. Eu fiquei encarregada das filmagens e fotografias, e eles de surfarem as direitas perfeitas de El Salvador. Alguns dias se passaram e depois de muitas ondas boas em Sunzal e El Zonte o mar baixou por 3 dias, porém sabíamos que entraria um outro “swell” (ondulação), e decidimos ir para outra praia, chamada de Las Flores, dessa vez mais ao sul de El Salvador.
Reservamos uma Van, saímos de El Tunco por volta das 10h e colocamos o pé na estrada. Depois de algumas horas paramos em uma pequena cidade para fazer um lanche no tradicional Pollo Campero, um fast food local e muito gostoso. De barriga cheia entramos na van e pé na estrada novamente, chegamos em Las Flores por volta das 16h. Conseguimos uma pousada bem de frente das ondas em cima de uma encosta de pedras. Decidimos que passaríamos três dias naquele pequeno paraíso que aos poucos foi se transformando em um pesadelo engraçado. Já conto para vocês o porquê. Todos os dias acordávamos cedo, e eu, com minha máquina e minha mochila, registrava os melhores momentos da trip, e eles com o objetivo de simplesmente surfar, surfar e surfar.
Nesta pousada havia um gerente muito estranho que tinha uma cara de “maloca”, ficava olhando para nós de uma forma estranha e todas as noites gostava de beber e fumar um cigarrinho verdinho. Além do mais, geralmente depois do jantar ele ligava um DVD de música latina (meio putaria) super alto e ficava com sua cerveja em uma mão e cigarro na outra assistindo aos vídeo. Todos nós achamos muito estranho o comportamento dele e ficamos receosos. Apesar de tudo, nossa rotina era a seguinte: café da manha reforçado, para aguentar a manha de surf; almoço a base de macarrão, para repor rápido as energias para mais uma sessão de ondas; e por último o jantar, que sempre acompanhava as minhas filmagens registradas ao longo do dia. No final de tudo isso, minhas filmagens produziram 2 filmes de surf de Las Flores, onde o Ro editou um do Lucas surfando e outro dele (veja no link do vídeo de Las Flores).
Bom! Como em todo lugar chega a hora de dizer tchau. No último dia, fiz mais algumas filmagens deles surfando e como amo sol e não sou de ferro, aproveitei também para pegar um bronzeado enquanto esperávamos a Van nos buscar. Eu e o Ro voltaríamos para El Tunco, e o Lucas e o Ricardo para um Hotel próximo do aeroporto, pois nossos amigos partiriam dali na manha seguinte de volta para o Brasil.
Enfim chegou a hora de contar para vocês o por que do paraíso ter se transformado em um pesadelo engraçado. Voltando na Van, já bem longe da pousada de Las Flores, o Ricardo e o Lucas começam a contar como foi a última noite deles no quarto. Ah! Esqueci-me de mencionar que em um de nossos jantares o Ricardo pediu um prato a base de camarões e nas contas dele vieram apenas 04 pequenos camarões. Por esse motivo, ele ficou tirando onda com o gerente “maloca”. Para nós era pura brincadeira, mas para o gerente acredito que não foi. Normalmente durante o dia o Ricardo sempre brincava com o gerente “maloca” sobre esse assunto. Entretanto, em nossa última noite o gerente tomou o maior porre, e não parava de beber e de fumar. Decidimos dormir cedo para surfar pela ultima vez, corremos para nossos quartos trancamos as portas e dormimos. O Ricardo contou que naquela noite ficou extremamente encucado com o cara e no momento deles dormirem não parou de pensar que o cara pudesse fazer algo contra ele. Aí começa o pesadelo engraçado. O Ricardo nos contou que durante aquela noite ele ouviu barulhos de passos e de garrafas sendo quebradas. Imaginando as piores coisas possíveis, o Ricardo correu para a porta, ficou abaixado, e acordou então o Lucas, que de supetão e com o coração na mão perguntou o que estava acontecendo. Ricardo disse que o gerente queria mata-lo e que estava tentando entrar no quarto. Lucas falou para ele manter a calma. Decidiram então ficar abaixados e espertos para qualquer movimento. Depois de mais alguns barulhos, o Ricardo entrou no banheiro quando de repente da janela do banheiro veio o gerente subindo em uma escada…imaginem seus corações nesse momento! Porém, o gerente estava apenas desenroscando a lâmpada que havia ficado acesa. Ufa! Nada aconteceu e depois de tanto medo nessa noite eles não dormiram em paz. Nossa imaginação vai longe às vezes! Essa história nos rendeu ótimas risadas na Van.
Despedimos-nos de nossos amigos queridos e voltamos à nossa viagem que agora ficou 86% surf e os 14% divididos entre passeios por ruínas, museus, shoppings e cinema. Com o passar dos dias fomos conhecendo bem esse país e aquela impressão de violento, foi ficando para trás. Aliás, o que nos chamou a atenção foi a segurança fortemente armada. Neste país os estabelecimentos comerciais pagam segurança privada e com isso víamos seguranças na frente de lojas, supermercados, hotéis, condomínios residenciais e shoppings. Sem falar na simpatia dos salvadorenhos. Que povo solícito! Encontrávamos sempre com alguém que nos dava um “seja bem vindo em meu país”, isso é tão bom de escutar, faz nos sentir parte do local.
Com a partida do Lucas e do Ricardo o Ro passou a surfar sozinho, e decidiu explorar as perfeitas ondas de Punta Roca em La Libertad, considerada por muitos uma das melhores ondas da América Central e do mundo. Entretanto essa praia é famosa pelo localismo e roubos, por isso não fui com ele nenhum dia, pois era perigoso ficar na areia, quer dizer, nas pedras, pois não tem areia. Aproveitei esses dias para me dedicar as minhas aquarelas (esse é um capítulo aparte, contarei em outros blogs sobre elas). Todos os dias o Ro pegava um ônibus para Punta Roca e voltava sempre com um sorriso no rosto, depois de surfar ondas longas e perfeitas. Como não podia ir, por causa do perigo, não pude filmar, mas por sorte um pequeno garoto, estava todos os dias filmando os surfistas que iam para lá. Fiesta, como é conhecido esse garoto, apareceu em nossa pousada com ótimos vídeos do Ro surfando em Punta Roca. Palavras do Ro sobre Punta Roca: “simplesmente uma onda sensacional, a melhor direita que já surfei na minha vida”. (Veja vídeo de Punta Roca)
Outra coisa que tenho que destacar é a comida local, ficamos “viciados” em Pupusas e Tamales dois pratos típicos de El Salvador. Pupusa é um tipo de tortilha com massa à base de farinha de milho onde dentro recebe recheio de queijo com feijão, frango com queijo ou carne com queijo. Todas acompanham molho de tomate, e uma salada de repolho, cenoura e pepino, que tem um molho especial que deixa os lábios levemente dormentes. Já o Tamales é como se fosse nossa polenta recheada de frango (as vezes com osso), carne ou feijão. Ela vem envolvida em uma folha de bananeira. Uma delícia! Também provamos a bebida chamada Horchata, essa não alcoólica, que leva amendoim, arroz, canela, açúcar e água. Uhm! Servida bem gelada.
Como havia dito, essa viagem não foi só surf e nos dias que não haviam ondas, saíamos para passear pelo país, fizemos alguns passeios por ruínas e museus para descobrir um pouco mais da história desse povo e de seus ancestrais, os Mayas. Fomos a dois sítios arqueológicos, sendo o primeiro a Joya de Cerén um antigo povoado Maya, onde seus moradores viveram ali por volta de 700 A.C. Neste povoado foram encontradas várias casas que eram sempre divididas em 3 pequenas casinhas da seguinte forma: a casa dormitório, onde servia para dormirem e para fazerem algumas reuniões; a cozinha, que poderia ser comunitária ou de uma única família; e por último a despensa, local onde guardavam seus mantimentos. Em alguns povoados encontraram até pequenas saunas. Imaginem só naquela época já existia sauna! O nome Cerén, é pelo fato deste sítio arqueológico ter sido descoberto nos campos de uma fazenda que pertence a uma família local, os Cerén. Já o nome de Joya, é pelo simples fato de terem encontrado um sitio arqueológico tão bonito e considerado uma jóia, uma verdadeira preciosidade arqueológica, a Joya de Cerén.
Outro sítio que visitamos foi o Tazumal, diferente do anterior não era um povoado e sim um local sagrado para os Mayas, onde eram realizados vários rituais. Um dos rituais que era feito no local, era o de sacrificar uma vítima para pedir proteção ou simplesmente agradecer aos Deuses. Eles pegavam uma pessoa, e enquanto quatro homens seguravam a vítima, um quinto enfiavam uma lança entre as costelas abaixo do coração, colocava a mão dentro do corpo da vítima e arrancava-lhe o coração. Depois, em um simples movimento de fricção de uma mão contra a outra ,despejavam o sangue da vítima em uma estátua de pedra em forma de um Deus. Essa vítima não podia ser qualquer pessoa, ela tinha que ser especial e importante, como um governante, príncipe ou um herói, (normalmente de povos rivais) pois o sangue tinha que ser de uma pessoa superior assim como os Deuses. O Tazumal é um monumento em forma de pirâmide que foi construído pelos Mayas a 900 A.C. Esse é o principal sítio arqueológico de El Salvador.
No Tazumal encontramos também uma estátua chamada Xipe Totéc (na língua Náhuatl significa “Nosso Senhor”) que representava o Deus do Tempo. Neste local só existiam duas estações: a seca, com escassez de comida, e a chuvosa, época da colheita das plantações. A passagem do seco para o chuvoso ocorria no mês de maio, e os Maias acreditavam que durante essa transição teriam que sacrificar um escravo e cobrir a estátua do Deus com sua pele, tudo em forma de agradecimento pela mudança de estação. Como podem observar na imagem abaixo, o local que parece uma roupa de escamas era onde cobriam com a pele.
Depois de tantas informações históricas e culturais pelas ruínas e museus, aproveitamos também para conhecer os shoppings de San Salvador, e claro para irmos ao cinema já que fazia um bom tempo que não assistíamos a um filme.
Por fim nos despedimos de El Salvador com uma tempestade tropical que bateu na costa de El Salvador, trazendo muita chuva, ventos e ondas enormes completamente tortas. Deixamos este pequeno, ou melhor, o menor país da América Central com um sorriso de satisfação e muito aprendizado. Estamos muito empolgados pois as próximas semanas serão extremamente agitadas, passaremos por Guatemala, Belize e chegaremos ao México pela Península de Yucatán. Visitaremos mais ruínas Maias, vulcões, florestas, cidades coloniais, praia paradisíacas. Continuem nos acompanhando. Aguardem-nos!!!
Beijos e abraços.
Priscila e Rodrigo
Vídeos:
- Punta Roca: http://www.youtube.com/watch?v=KeeqSHPU3KA
Pri, esse foi um dos textos que mais gostei, e um dos quintais tbm!
Confesso que ri muito o post e que adoooorei a parte dos museus e passeios. Depois quero saber o endereço dos blogs que vc irá postar as aquarelas! Um beijo! s2…e ótima continuacão à vcs!
Que shoooooooooow!
bjos com saudades